Tempo: Questão de Prioridade

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Não há como contestar que o tempo é um recurso finito que precisa ser gerenciado. Recebemos de forma equânime o mesmo tempo por dia, independentemente de quem somos, portanto precisamos nos conscientizar do que fazemos com ele.

É frequente ouvirmos frases como: “Minha vida está um corre-corre danado” ou “Não estou tendo tempo pra nada”. Nessas horas, o que me vem à cabeça são as perguntas: “Quanto vale o meu tempo?”. “Estou usando ele de forma efetiva para alcançar meus objetivos e contribuir com o mundo?”. Cheguei à conclusão de que não nos falta tempo, mas sim que é preciso ajustá-lo às nossas prioridades de vida.

A gestão do tempo é um enorme desafio nos dias atuais. Milhões de informações chegam à palma de nossa mão a toda hora e, se permitirmos, nos jogam para um mundo paralelo em que as nossas prioridades perdem a importância. Apesar dos planners e aplicativos que todos os dias são criados para otimizar a gestão do tempo, as decisões sobre o que é importante fazer esbarram nos compromissos sociais impostos, nas urgências que se apresentam no dia a dia e nas atividades que amamos fazer mas não agregam nada aos nossos objetivos.

Como qualquer outro recurso, o tempo quando bem administrado potencializa ações focadas em nossas metas de médio e longo prazo. Embora seja recomendável fazer sua gestão, nunca teremos o controle absoluto do tempo. Acreditar nisso só aumentaria a angústia e a ansiedade em situações de imprevisto. Há que se tomar algumas decisões diárias para otimizá-lo, mas sem se frustar quando algo sair momentaneamente do controle, culpando pessoas ou acontecimentos pela baixa “performance”. Poderíamos chamar isso de “Tirania da Agenda” - quando tomar um café com um amigo que apareceu após anos distante, ou estar em um evento familiar, é proibido ou precisa ser devidamente agendado pela secretária. O tempo de qualidade com a família e amigos recarrega as baterias e faz parte de uma exitosa gestão de recursos.

Elencar as prioridades da vida pode parecer fácil, mas se sabemos quais são, por que não temos tempo para colocá-las em prática hoje? A verdade é que, como essas prioridades não são urgentes, acabamos por empurrá-las para o final da fila, ou seja, o que está alinhado com objetivos maiores e enche os nossos olhos de brilho fica soterrado em pilhas de compromissos e tarefas urgentes que não têm tanta importância para a realização de nossos sonhos. Quando olhamos para o dia, a semana, o mês ou o ano, vemos que estivemos muito ocupados, muitas vezes exaustos, mas não felizes com a nossa efetividade nas áreas mais importantes e prioritárias de nossas vidas. Isso gera estresse e ansiedade, que bloqueiam a visualização das soluções.

Certamente, para profissionais da área de saúde o tempo é um dos seus principais ativos. Como prestadores de serviços em consultórios ou empregados (públicos ou privados) em hospitais, com um trabalho que não é escalável (necessita da presença do profissional durante o atendimento), a correria é ainda maior, causando grande estresse físico e emocional. Isso efetivamente é vender tempo juntamente com a autoridade na profissão.

Como então sair dessa situação pagando as contas, economizando para projetos futuros e ainda ser saudável e feliz? Primeiramente, como Stephen Covey indica no seu livro “First Things First” (a propósito, lê-lo não é perda de tempo), troque inicialmente seu relógio por uma bússola.

Reserve um tempo, sem interrupções, para reavaliar seu caminho e se esse está o levando aos propósitos de sua vida. Escreva o que gostaria de ser como profissional e como pessoa: o que faz seu dia mais feliz. Normalmente, quando fechamos os olhos e criamos uma imagem mental dos reais propósitos o coração acelera e o sorriso aparece nos lábios. Essas deverão ser as prioridades na sua vida, a sua visão de futuro.

A trajetória nem sempre será fácil, mas com um foco claro a energia e a motivação aparecerão para fortalecer a caminhada. Deixe essa imagem em algum lugar de fácil acesso para que possa ser vista com frequência quando a energia pensar em te abandonar.

A partir daí, respire fundo e esqueça a ansiedade em casa juntamente com a ideia de sair correndo para resolver tudo em um só dia. A caminhada deve ser gradual para que possa ser aproveitada, adquirindo conhecimentos para as próximas etapas, intercalando pequenos passos com algumas corridinhas e paradas estratégicas para respirar fundo, apreciar a vista e buscar força para continuar na jornada que enche seu coração de alegria.

Ao se posicionar no seu caminho, certamente encontrará pessoas também o trilhando. Sugiro selecionar as pessoas certas, com o mesmo propósito, a mesma visão de futuro e, principalmente, caráter. O apoio é fundamental nos momentos mais difíceis, em que, a energia parece nos abandonar. Uma das formas de ajustar as atividades à visão de futuro é classificando-as, primeiramente, em importantes e não importantes e urgentes e não urgentes, como está nos quadrantes abaixo:

O PRIMEIRO QUADRANTE

É o quadrante da crise (importante e urgente): esse é o quadrante mais desafiador e do estresse, mas ele está presente na vida de todas as pessoas. Ele pode ser aproveitado para trabalhar a resiliência e a autogestão de sentimentos e ações. Traz também a consciência dos pontos a serem melhorados. É nele que vai parar o que já esteve no segundo quadrante (importante e não urgente) e não foi feito a tempo.

SEGUNDO QUADRANTE

É o quadrante do planejamento e da qualidade (importante e não urgente): é neste quadrante que será trabalhado o futuro. Aqui é onde se desenvolvem as habilidades de fazer o seu propósito acontecer. Quanto mais tempo e ações colocarmos nesse quadrante, menor será o primeiro, pois o planejamento minimiza a crise. É o quadrante que não deve ser negligenciado no presente.

TERCEIRO QUADRANTE

É o quadrante da frustração (não importante e urgente): neste estão as coisas que precisam ser resolvidas, mas não são prioridades. Muito relacionadas a demandas externas, que estão fora do nosso foco. Muitas vezes parecem importantes pela urgência, mas ao ver que não contribui para algo importante poderá ser delegado.

QUARTO QUADRANTE

É o quadrante da perda (não importante e não urgente): é o quadrante que deve ser evitado. Inicialmente pode nos gerar uma sensação de conforto e bem-estar, mas logo se percebe a total perda de tempo e energia existente ali. As horas gastas em mídias sociais e as maratonas de séries estão neste quadrante.

Após a consciência de quais quadrantes estão sendo mais utilizados, podemos estar mais atentos e criar novos hábitos que priorizarem as atividades que estão ligadas aos propósitos de vida e à visão de futuro. Resumindo, temos que:

  • Inicialmente, trocar a bússola pelo relógio: buscar o que queremos verdadeiramente para a nossa vida;
  • Estabelecer as metas de curto e médio prazos para iniciar a jornada (1 semana/1 mês), contemplando todas as áreas de nossa vida;
  • Vibrar com os pequenos sucessos!;
  • Elencar e diminuir, o máximo possível, os ralos de nosso tempo que só tiram o foco e a energia de nossos objetivos;
  • Aprender a delegar: selecionar as atividades não importantes em que gastamos o nosso tempo e que outras pessoas podem nos ajudar a fazer;
  • Desfrutar de momentos de lazer com a família e com os amigos;
  • Deixar algum tempo para eventualidades;
  • Reservar momentos de autocuidado.

As pequenas mudanças realizadas diariamente serão decisivas não só para gerenciar melhor o tempo, mas também para orientar a vida para o futuro com mais qualidade, saúde e bem- estar. Então, fica a pergunta: Qual é a sua decisão de hoje que vai alavancar o seu futuro?

DRA. MARIA DE FÁTIMA SCHOICHET