A saúde mental transforma colaboradores em atletas corporativos 

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Patricia Pessoa Pousa

Executiva de Gente e Gestão em Saúde | Consultora, Mentora, Coaching em Gestão de Pessoas | Assessora LinkedIn | Doutora em Mundo do Trabalho e Saúde Mental na FCM Unicamp | Enfermeira | Professora convidada FGV

7 de agosto de 2024

Lembra das Olimpíadas de Tóquio em 2021? A ginasta da história, Simone Biles, tomou uma decisão que chocou muitos: ela se afastou das competições para cuidar da sua saúde mental. Em vez de forçar sua participação e arriscar o bem-estar, ela escolheu priorizar seu equilíbrio mental.

Para alguns, essa escolha foi vista por alguns como uma fraqueza, mas o que isso pode nos ensinar?

A importância de cuidar da saúde mental.

Assim como os atletas, no geral, precisam de tempo para se recuperar e manter sua saúde mental e física, nossos colaboradores também precisam de um ambiente que suporte e valorize a recuperação e o bem-estar.

Quando Simone Biles voltou às competições em Paris, ela voltou ainda mais forte, e até agora, já conquistou medalha de ouro na competição por equipes, no individual geral e no salto. Essa recuperação após o retorno só demonstra que parar às vezes é necessário e o resultado e desempenho pode ser muito superior.

E vamos ser honestos, se tem uma coisa que os líderes querem para suas equipes é alto desempenho.

Mas como fazer isso diante de uma pressão cada vez maior e de mudanças rápidas?

Se engana quem acha que existe uma fonte única para desenvolver esse desempenho.

Na verdade, há muito tempo, os teóricos da administração buscam identificar precisamente o que faz algumas pessoas desenvolverem sob pressão e outras desistirem. O estudo ‘The Making of a Corporate Athlete’, que traduzido para o português significa ‘A formação de um atleta corporativo’, de 2001, por Jim Loehr e Tony Schwartz, chegou a algumas respostas parciais: bom nível de recompensas, a cultura certa, gestão por objetivos.

Já percebeu que nos últimos anos, tem crescido o debate da relação entre inteligência emocional e alto desempenho?

Pois é. Alguns teóricos abordaram até como o campo espiritual — como valores mais profundos e um senso de propósito, também influenciam o desempenho.

Mas o que ninguém presta atenção é que o desempenho é sustentado pela reunião de todos os conjuntos: emocionais, psicológicos, espirituais e físicos.

O artigo de Jim Loehr e Tony Schwartz também identificou que uma abordagem de sucesso deve considerar a pessoa como um todo: seu corpo, emoções, mente e espírito. Os melhores desempenhos de longo prazo aproveitam a energia positiva em todos os níveis dessa pirâmide de desempenho.

Nesta edição, decidi trazer a importância de dar considerar cada um desses fatores: físico, emocional, mental e espiritual.

1. Físico

 O corpo é nossa fonte de energia e é a base da pirâmide de desempenho.

 Quando seu corpo está bem, você tem mais energia e capacidade para lidar com o trabalho e o estresse. Por exemplo, exercícios regulares ajudam a manter a energia e melhorar o foco. Comer de forma balanceada e dormir bem também são fundamentais para evitar quedas de energia e melhorar o desempenho.

 Rituais de recuperação, como pausas curtas e hábitos saudáveis, ajudam a manter o equilíbrio entre trabalho e descanso, evitando a sobrecarga. Com essas práticas, você se sente melhor, trabalha de forma mais eficiente e pode lidar melhor com os desafios do dia a dia.

 Gerenciamento de tempo é o famoso: saber quando produzir, saber quando descansar.

 O atleta corporativo não constrói uma base física forte apenas com exercícios, é claro. Bons rituais de sono e alimentação são essenciais para o gerenciamento de energia.

2. Emocional

Assim como as emoções positivas acendem a energia do alto desempenho, as emoções negativas, que podem se manifestar pela frustração, impaciência, raiva, medo, ressentimento e tristeza, drenam ela. Com o tempo, esses sentimentos se tornam tóxicos, e podem até elevar a frequência cardíaca, pressão arterial e aumentar a tensão muscular.

Isso prejudica muito o desempenho, e pior, compromete o profissional!

É por isso que atletas ansiosos e medrosos têm muito mais probabilidade de se auto sabotarem em competições, mesmo sendo muito bons em suas modalidades.

Claro, o impacto das emoções negativas no desempenho dentro de uma empresa é mais sutil, mas isso não significa que é menos devastador.

Mas o que dá para extrair da experiência dos atletas?

Temos que aprender a compensar os sentimentos de estresse e restaurar a energia positiva.

Alguns atletas, por exemplo, escutam música para se preparar para uma competição. Isso porque a música tem ótimos efeitos emocionais e pode provocar mudanças momentâneas no mental e proporcionar até um alívio em preocupações.

Outra lição que podemos utilizar é o famoso ditado:

“Fake it until made it”

Já ouviu essa expressão?

Ela sugere que, imitar uma confiança vai fazer com que você se sinta confiante, mesmo em situações estressantes. E isso é verdade, sugere um passo de fé.

É por isso que treinamos mentorados para "agir como se" — construindo neles, aquilo que eles querem sentir por dentro. Saibam que sim, a linguagem corporal também influencia as emoções.

Algo que também é preciso levar em conta são os relacionamentos. Eles são o meio mais poderoso para estimular emoções positivas e ter uma boa recuperação.

Qualquer pessoa que tenha desfrutado de uma reunião familiar feliz ou de uma noite com bons amigos conhecem a sensação de segurança que esses relacionamentos podem induzir.

Infelizmente, muitos ainda acreditam que, para atingir as expectativas no trabalho, eles precisam abrir mão do tempo com família e amigos. Mas o ponto é exatamente o contrário: dedicar mais tempo aos seus relacionamentos mais importantes e estabelecer limites mais claros entre trabalho e casa, vai fazer com que a gente tenha mais satisfação e desempenho.

3. Mental

Muitos treinamentos focam no mental para melhorar competências.

E não é à toa.  Para nós, é importante nos concentrarmos principalmente em melhorar capacidades cognitivas como: foco, gerenciamento de tempo e pensamento positivo e crítico.

Primeiro porque o foco é a energia concentrada em um objetivo e as distrações diminuem essa energia. A meditação é uma das maneiras que podem ajudar a treinar a atenção e recuperar energia mental, porque é capaz de acalmar a mente, emoções e corpo, e ajuda na recuperação da energia mental.

4.Espiritual

A maioria dos profissionais têm receio de falar sobre seu lado espiritual em ambientes empresariais, e é compreensível. A palavra "espiritual”, por si só, já provoca emoções conflitantes e não parece imediatamente relevante para o alto desempenho.

Mas sejamos claros: por capacidade espiritual, queremos dizer que valores mais profundos e a importância de definir um forte senso de propósito.

Conclusão…

Quando os executivos aumentam suas capacidades e a da suas equipes nesses níveis, eles conseguem levar seus talentos e habilidades ao máximo, e alcançam o que chamamos de Estado de Desempenho Ideal (IPS).

No mundo dos esportes, dizem que o verdadeiro inimigo do alto desempenho é a falta de recuperação disciplinada. O estresse crônico sem recuperação leva ao esgotamento e compromete o desempenho. Por isso, criar rotinas que promovam a oscilação entre estresse e recuperação é fundamental.

Inclusive, esses mesmos métodos que ajudam atletas de alto rendimento a alcançar o IPS sob pressão podem ser aplicados a líderes empresariais. Eles também enfrentam demandas constantes para manter alto desempenho, mas muitas vezes sem tempo suficiente para treinar ou descansar.

Diferente dos atletas, que têm períodos de recuperação, os executivos geralmente têm poucas semanas de férias por ano.

Por isso, para atingir um melhor desempenho, é importante encontrar um equilíbrio entre: tempo gasto de energia e recuperação. Essa oscilação é o que mantém a produtividade sem esgotamento.

Mas mesmo em meio a essas demandas, é possível treinar para gerenciar melhor nosso estado interno. O objetivo é usar todas as capacidades para prosperar nas circunstâncias mais difíceis, emergindo mais fortes e preparados para os próximos desafios.

Portanto, assim como Simone Biles nos mostrou, é essencial reconhecer quando é necessário parar e cuidar de si mesmo para voltar mais forte. Líderes que incentivam esse equilíbrio em suas equipes podem esperar não apenas um melhor desempenho, mas também um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável