Revista SBAO - Como manter um consultório independente:
Grupos de capital privado têm investido em clínicas oftalmológicas. Entre 2012 e 2019, 228 clínicas, no total de 1.466 locais e 2.146 oftalmologistas ou optometristas, foram adquiridos por apenas 29 empresas, apoiadas por capital privado.
Existem muitas razões para vender para um grupo de capital privado: pode ser difícil vender clínicas maiores, ou um oftalmologista jovem pode se sentir melhor em ser um funcionário bem pago, do que ser o chefe de um negócio, por exemplo. Grupos de capital privado também podem atrair quem está se aposentando e busca uma forma fácil de sair do mercado.
Para remixar o famoso William Shakespeare: vender ou não vender, eis a questão. Muitos médicos perdem o sono com essas decisões, incluindo a médica e administradora de clínicas do Short Hills Ophtalmology Group, em Nova Jersey, Joy Saah, que disse: “A questão é que os médicos passam grande parte do início das suas carreiras, até metade das suas carreiras, construindo essas clínicas. Talvez, até seus pais ou avós construíram essas clínicas.
Não é segredo que esses grupos entram em cena, mexem em tudo, para tentar revender depois. Esse é o objetivo financeiro final.” Em sua carreira, Saah diz ter notado que médicos têm mais dificuldade de entregar a clínica para os grupos do que para outros médicos. “Parece que se você está vendendo para um médico, você está colocando seus pacientes nas mãos do médico que você escolheu,” ela disse. “Acho que isso é mais fácil do que ficar como empregado de uma empresa que não faz parte dessa história”.
Nem todas as clínicas abordadas por esses grupos foram conquistadas, ao invés disso, muitas procuram modelos alternativos de negócios que priorizem a autonomia, certeza e cuidado ao paciente. “As pessoas querem controle sobre suas vidas e seu ambiente de trabalho.”, diz Arthur De Gennaro, presidente da empresa de consultoria Arthur De Gennaro e Associados. “Se você vende para um grupo de capital privado, você perde a maioria desse controle. Eles vão te dizer como fazer as coisas.”
Se um médico escolhe não seguir o modelo de negócios proposto pelos grupos de capital privado, como ele pode se manter competitivo ou até mesmo ter sucesso em um ambiente cada vez mais composto por grandes grupos? Abaixo, discutimos alguns caminhos alternativos para médicos que desejam que sua clínica permaneça independente – e de sucesso.
A clínica concierge:
Qual é o contrário de uma clínica gerida por grupos de capital privado? Uma clínica concierge, segundo Stacy S. Koch, gerente da Clínica Seeta Eye. Localizada em Nova York, a clínica oferece serviços a nível concierge, que segundo Koch, os diferencia de outras clínicas em Poughkeepsie. Isso significa investir em tecnologia, na equipe e no tempo com os pacientes. Tornar-se concierge “foi realmente mais uma evolução natural impulsionada pelas coisas que já fazemos”, disse Koch. “Não é algo que aconteceu claramente por escolha. Isso aconteceu organicamente, pelo cuidado que demos, pelo tipo de médicos que temos aqui.”
A Seeta Eye oferece muitos serviços opcionais que não são oferecidos em grandes grupos, como o procedimento SMILE, e lentes de contato especiais. Além de uma gama de serviços de boutique e de especialidade, a Seeta investe bastante no tempo de atendimento e no cuidado com cada paciente. Parte do trabalho de Koch é passar bastante tempo com o paciente, após o médico sair do consultório, para explicar cada procedimento e como isso pode melhorar sua visão. Apesar do tempo investido ser grande – ela recentemente passou mais de uma hora com uma paciente de 40 anos, explicando o implante de LIOs após diagnóstico de catarata – esses procedimentos geram receita para a clínica, e o tempo investido gera boa vontade nos pacientes. Koch diz que, em sua experiência, médicos ficam receosos de oferecer procedimentos custosos ou serviços que possam exceder o que o convênio do paciente cobre, mas essas opções dão mais liberdade aos pacientes para tomarem suas próprias decisões sobre sua saúde.
A parceria:
Outra opção pode ser unir-se, ou fazer uma parceria, com outra clínica, ao invés de vender para um grupo de capital privado. Foi isso que a Concord Eye Center fez, apesar de, na época, se chamar Concord Eye Care, como explicou a gerente de Marketing e Desenvolvimento Empresarial, Sarah Duval. Quando o hospital local começou a comprar clínicas, a liderança do Concord Eye Care e da clínica vizinha, The Eye Center of Concord, se uniram. Cada um queria manter sua independência, e cada um tinha mais vantagens se o outro não fosse vendido para o hospital. “Em algum momento, as lideranças se uniram e decidiram se unificar, para que nenhum dos dois tivesse que se preocupar com o hospital comprar o outro.” Agora, a clínica mantém dois locais. “Eles não queriam o hospital dando as ordens. Eles queriam continuar como diretores e fazendo o que achavam melhor. Não tinham interesse no hospital ditando as regras, os horários, decisões financeiras. Eles, como médicos e proprietários, queriam controle total de suas finanças, da maneira que as clínicas seriam geridas.”
A rede de clínicas:
Outra opção que parece similar à parceria, mas que é diferente, é formar uma rede de clínicas médicas. A US Eye é assim, com mais de 50 locais no sudeste dos Estados Unidos, seus donos são médicos, e a empresa é apoiada pelo Pamlico Capital. A rede foi fundada por David Shoemaker, médico de Sarasota, Flórida, e atual CEO. A clínica do Dr. Shoemaker, Center for Sight, atendia há 30 anos quando iniciou o US Eye, em 2019. A maneira como funciona é simples: a US Eye compra uma clínica e o dono recebe parte do valor em dinheiro. O resto é reinvestido em ações da US Eye. “Os donos se tornam parceiros em nosso grupo de clínicas, o que é muito poderoso, já que a clínica mantém autonomia e ganha suporte administrativo.”, disse Justin Santa Cruz, Chefe de Desenvolvimento da US Eye. “Você não está mais em uma ilha, aguentando a tempestade sozinho. Você se junta a uma rede de administradores como você, que agora são seus colegas.” Um possível benefício de uma rede formada por médicos é que – e isso pode parecer óbvio - é uma rede liderada por um médico, que pode entender melhor as necessidades de seus parceiros médicos, do que um grupo de investimento, cuja principal missão é gerar lucro para seus investidores. Santa Cruz descreve como uma terceira opção entre achar outro médico para assumir sua clínica e vender para um grupo de investimento. “A US Eye foi criada por médicos que queriam outra opção. Os pacientes e a equipe de funcionários têm que vir em primeiro lugar. Esse é nosso princípio.” “Tamanho importa na saúde.”, diz Santa Cruz. “Por isso, empresas de seguro estão se unindo e, por isso, os hospitais estão comprando clínicas há anos. Desde negociações entre credores a benefícios melhores para funcionários e a melhor tecnologia para pacientes, pertencer a um grupo que apóie seus objetivos e te ajude a superar obstáculos, é melhor para administradores, médicos e para pacientes.”
Testado e aprovado:
De Gennaro avisa que as alternativas não precisam ser novidade. “As alternativas não são alternativas. São uma maneira antiga de se vender uma clínica. A forma mais tradicional é simplesmente vender para outro médico”. De Gennaro, que frequentemente ajuda oftalmologistas a comprar e vender clínicas, diz que “provavelmente seria alguém no mercado que está buscando expandir.” Outros caminhos seriam identificar médicos associados que não se tornarão sócios onde trabalham, mas estão buscando se tornar donos de uma clínica. Também é possível identificar médicos recém-saídos da residência, que desejam se tornar donos ou sócios de uma clínica. “Assim tem sido feito, desde sempre.”, diz ele. Exatamente isso que uma médica da Arkansas Ophthalmology Associates fez. Ela começou procurando residentes, antes de recrutar o antigo oftalmologista chefe do Hospital de Veteranos de Guerra local. Ela nunca quis vender para um grupo de investimentos, “por causa do relacionamento que criou com seus pacientes.”, diz Jeanne Colglazier, administradora de clínicas. No fim, mesmo que pareça que grupos de investimento são uma enorme ameaça para clínicas de Oftalmologia, as aparências podem enganar. “A grande maioria de clínicas nos Estados Unidos não foi comprada por grupos de investimentos.”, diz De Gennaro. “Os grupos de investimento entraram em contato com quase todas as clínicas no país e a grande maioria decidiu não vender.” Publicado com a autorização da Sociedade Americana de Administradores Oftalmológicos Reprinted with permission from the American Society of Ophthalmic Administrators (www.asoa.org)
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