Os Desafios Atuais da Gestão em Saúde

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Certamente os processos de Gestão adotados por uma Organização em Saúde determinam os seus resultados, sejam eles de sucesso ou insucesso. Executar boas práticas em Gestão, manter a equipe motivada, direcionar de forma eficaz os recursos, acompanhar indicadores de qualidade, atingir metas de forma ética, adotar políticas de sustentabilidade, dentre outras condutas institucionais, são atribuições de um bom gestor, as quais já lhe demandam uma dedicação intensa. Todavia, a velocidade e a intensidade das transformações na área da saúde exigem do Administrador um empenho extra, quase uma devoção, em se manter atualizado e preparado para as modificações e correções no rumo de suas instituições.

Estamos inseridos em uma realidade onde convivemos com uma evolução tecnológica avassaladora que nos impõe temas como telemedicina, inteligência artificial e medicina robótica. Somos afrontados regularmente por outros profissionais que invadem as áreas de atuação exclusiva da medicina, transgredindo frontalmente a Lei do Ato Médico e por muitas vezes concorrendo de forma desleal com seus anúncios e publicidades. Absorvemos anualmente em nosso mercado de trabalho milhares de novos médicos, alguns formados em condições duvidosas, e nos deparamos com uma progressiva abertura de novos cursos de medicina. Sofremos com vínculos trabalhistas cada vez mais precários nos serviços público e privado de saúde. Junto a isso, os processos judiciais e administrativos em desfavor dos profissionais e das empresas médicas aumentam de forma exponencial e as operadoras de saúde em sua maioria insistem em adotar práticas cada vez mais agressivas diante dos seus prestadores. Como enfrentar tudo isso? A resposta não é simples e talvez não exista solução a curto prazo para tratar de todas essas questões.

Combater e se opor aos avanços tecnológicos decerto não é a melhor opção, pois estes caminham em uma velocidade completamente diferente daquela que gostaríamos. Acreditar que podemos impedir ou mudar a trajetória da evolução tecnológica é uma ilusão e a pandemia por Covid-19 nos trouxe uma prova disso. Em pouco tempo fomos apresentados a uma nova forma de atendimento ao paciente e novos termos passaram a fazer parte da nossa vida: telemedicina, teleatendimento, teleconsulta, telediagnóstico e outros. Já coexistimos com equipamentos oftalmológicos que nos direcionam ao diagnóstico e possuem bancos de dados e imagens com capacidades muito maiores que àquela do mais experiente oftalmologista, esta é a tal da Inteligência Artificial. E o que dizer dos robôs já amplamente utilizados em outras especialidades cirúrgicas, que permitem que pacientes sejam operados por médicos a milhares de quilômetros de distância? Não podemos impedir este progresso, mas podemos brigar para que o médico esteja sempre inserido no controle destes processos.

Testemunhamos uma multiplicação assustadora de profissionais não médicos se enveredando nas áreas exclusivas da medicina, realizando diagnósticos nosológicos e tratamentos restritos aos médicos. Por muitas vezes se utilizam de técnicas mercantilistas de promoção, impulsionando seus anúncios, utilizando nomenclaturas que confundem a sociedade, propagando fotos no modelo antes/depois e expondo seus “pacientes” muitas vezes de forma vexatória. Tais infrações são observadas de forma cada vez mais frequente, mas o combate não é elementar. Suprimir tal atividade requer uma conscientização da população e das autoridades competentes, de que tais ações possuem um potencial extremamente lesivo aos cidadãos, podendo inclusive levar ao desfecho fatal.

Experimentamos uma medição de força desigual com as Operadoras de Planos e Seguros de Saúde que para melhorar seus resultados, utilizam-se de estratégias, muitas vezes ofensivas, trazendo prejuízos aos contratados e impossibilitando a oferta de um serviço qualificado aos usuários. Não tão apartado, padecemos com a invasão dos fundos de investimentos e empresas de capital aberto que vislumbram lucros e dividendos em detrimento dos gastos com os serviços em saúde.

Como dito inicialmente, a rota de fuga não é tão clara. Adotar táticas priorizando boas práticas em gestão, buscar constantemente o aperfeiçoamento dos processos internos visando melhorias no controle e na qualidade, atentar para costumes cada vez mais pautados na ética profissional e na proteção jurídica podem trazer uma sobrevida, no entanto, não trarão resultados definitivos. Talvez o enfrentamento de todos estes problemas passe por uma reflexão coletiva que nos mova para uma jornada de união e nos desperte para o movimento Cooperativista. Esta mudança é premente, pois em breve não será mais possível agirmos isoladamente ou apenas passarmos como observadores por todas estas adversidades. É necessário o despertar de todos os envolvidos neste enfrentamento, desde os mais jovens até os mais experientes, pois os novos desafios se apresentam a todos de forma parelha. Precisamos evoluir para um desenvolvimento sustentável, econômico e social da nossa comunidade médica.

Autor: Joel Carlos Barros Silveira Filho

Médico Oftalmologista, Diretor do Conselho Regional de Medicina do Estado do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ), Coordenador da Comissão de Defesa das Prerrogativas Médicas do CREMERJ, Membro da Comissão de Ética do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Mestre em Saúde Coletiva pelo IFF/Fiocruz e Docente de Oftalmologia na UNIGRANRIO.