UNIFESP testa implante de microlente na córnea para corrigir vista cansada
Pesquisa com 80 pacientes vai comparar resultado do implante com o uso de lentes normais
Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pretende avaliar a eficácia de uma microlente de apenas três milímetros de diâmetro implantada dentro da córnea para corrigir a presbiopia, conhecida como vista cansada. O problema, que dificulta a leitura e faz com que a pessoa afaste cada vez mais o livro para conseguir enxergar, por exemplo, afeta cerca de 85% das pessoas com mais de 40 anos.
O produto, chamado Flexivue Microlens, da marca Presbia, já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e submetido a um estudo com cinco pacientes no Hospital de Olhos Paulista (H.Olhos).
Agora, o oftalmologista Mauro Campos, coordenador da Pós-Graduação em Oftalmologia da Unifesp, pretende comparar a nova técnica com o uso de lentes descartáveis comuns. Já foram recrutadas 80 pessoas para participar da pesquisa.
"O objetivo é ver com qual das duas a pessoa se sente melhor", explica Campos. Dos 80 voluntários, 40 receberão a microlente e 40 utilizarão uma lente comum.
Nos meses seguintes, eles serão submetidos a métodos de análise da visão qualitativos e quantitativos, incluindo um questionário de satisfação e qualidade de vida relacionada ao desempenho da visão em tarefas cotidianas. Durante um ano, as visitas ao oftalmologista serão mensais e a avaliação deve terminar em julho de 2013. Até agora, 28 pacientes já foram operados.
Fora de foco. O quadro de presbiopia ocorre quando o cristalino, que é um tipo de lente interna do olho, perde a flexibilidade e a capacidade de ajustar o foco das imagens vistas de perto.
A nova técnica em teste prevê que a microlente seja inserida por meio de cirurgia no interior da córnea, parte externa do olho que pode ser comparada ao vidro de um relógio.
A inserção é feita com o auxílio de laser, que abre um "bolso" na córnea, por onde o pequeno disco é inserido. O bolso se fecha naturalmente após o procedimento, mantendo a lente fixa. Os raios de luz que entram pela região periférica da lente, então, passarão a ser corrigidos para que o foco se ajuste à retina. Assim, os objetos próximos passam a ser vistos com maior nitidez. Caso o paciente não se adapte, a lente pode ser retirada com nova cirurgia. Apenas um olho é submetido à técnica.
"Existe um grande ganho de visão. A média é de um ganho superior a 50% para perto", diz Mauro. Ele conta que os pacientes que mais devem se beneficiar do implante são aqueles que queiram independência dos óculos de perto durante atividades sociais e trabalho.
Para se submeter à técnica, é preciso fazer um exame oftalmológico padrão para cirurgia na córnea e ter, no máximo, 4 graus de hipermetropia. O preço da cirurgia, que dura cerca de 10 minutos, é em média R$8 mil - uma cirurgia de correção de miopia a laser, por exemplo, custa cerca de R$ 3,5 mil cada olho.
Experiência. A enfermeira Maria Elisa Reis Pereira, de 50 anos, foi uma das cinco pacientes do H.Olhos a se submeter à cirurgia no ano passado. Ela já usava óculos para perto havia sete anos.
"Não lia mais nada sem óculos. Para mim, era um desconforto. Se estava assistindo a uma palestra, quando abaixava a cabeça para anotar tinha de colocar os óculos, caso contrário não enxergava o que estava anotando", conta. Ela tentou outras estratégias como óculos bifocal e multifocal, mas não se adaptou a nenhum deles.
Para fazer a cirurgia, ela conta que recebeu uma anestesia tópica, em colírio. "Não senti absolutamente nenhuma dor. Só uma pequena pressão do aparelho no olho. É uma cirurgia rápida e você já vai embora logo." Depois de três dias, já era possível ler sem a ajuda dos óculos.
"Ajudou bastante. Antes, quando precisava puncionar um paciente ou ler um frasco de medicação, tinha que colocar os óculos. Para andar, tinha de tirar. Então ele tinha de ficar sempre pendurado", conta.
Já existem cirurgias a laser capazes de alterar a curvatura da córnea com o objetivo de corrigir a presbiopia, porém, apesar de pouco invasivas, elas são irreversíveis e não eliminam completamente o problema.
MARIANA LENHARO - O Estado de S.Paulo