Por que o prontuário eletrônico ainda precisa melhorar?
Há alguns dias, ouvi de um médico que o uso de prontuários eletrônicos (ou Electronic Health Recordings, EHRs) estava deixando-o estressado, atrapalhando sua dedicação ao cuidado com o paciente. Conversamos rápido no dia e acabei não aprofundando nos motivos da reclamação. Quando cheguei em casa, resolvi pesquisar a respeito e achei oportuno tratar do assunto aqui.
Por facilitar o acesso à informação tanto por parte dos profissionais de saúde como dos usuários, entre outras razões, o prontuário eletrônico representou um grande avanço na organização do fluxo de dados. No entanto, prontuários desse tipo têm sofrido alguma crítica por quem está no dia-a-dia da assistência. Seja entre quem é mais antigo na área, seja entre os formados recentemente.
Ilustrando um pouco mais a situação, um estudo realizado entre janeiro de 2013 e agosto do mesmo ano pela American Medical Association (AMA) em parceria com a RAND Corporation tratou dos fatores que afetam a satisfação dos médicos com a profissão. Entre vários pontos, o impacto do uso de EHRs foi levado em conta, constatando que os EHRs podem estar associados – de forma positiva ou não – à satisfação geral do médico com o seu trabalho.
PRINCIPAIS RECLAMAÇÕES
Os médicos de clínicas americanas entrevistados na pesquisa revelaram que o tempo gasto para transcrever as informações nos EHRs é maior do que quando comparado com antes, quando não havia seu uso. Houve até um médico da atenção primária que relatou gastar pelo menos duas vezes mais tempo para preencher as informações. Além disso, softwares de reconhecimento de voz, que têm o propósito de poupar tempo ao dispensar digitação, ainda precisam de alguns ajustes, segundo o estudo.
Outra reclamação é o formato complexo de alguns EHRs, que desafia principalmente quem não está habituado com tecnologias. Em alguns casos, a ordem de entrada das informações foi vista como pouco intuitiva. Ademais, o contato olho a olho em uma consulta fica prejudicado se quem está digitando não possui muita habilidade. A opção nesses casos, segundo relatos do próprio estudo, era preencher os prontuários após a consulta, o que exige mais tempo dos profissionais.
A falta de comunicação entre os diversos tipos de EHRs também foi outra questão abordada. Se uma clínica pretende enviar informações de um dado paciente para outro ponto de assistência, sendo que cada um desses lugares adquiriu um EHR diferente, é de se esperar que haja interoperabilidade entre os programas, porém isso nem sempre ocorre.
O custo de implementação e uso de EHRs, segundo os médicos entrevistados, dificilmente pode ser previsto com exatidão. Os gastos podem ir além da compra do prontuário em si, envolvendo a renovação de computadores e a criação de uma equipe de TI, o que pode superar as previsões iniciais.
PERSPECTIVAS
Mesmo com as questões mencionadas, segundo a pesquisa, é consenso: os profissionais apoiam amplamente o conceito desses prontuários. A proposta de facilitar o acesso à informação, a melhora na qualidade do cuidado – especialmente em casos de doentes crônicos e na atenção primária – por permitir comparações rápidas de dados e ainda a melhor comunicação entre os profissionais produzida pelos prontuários são os pontos positivos apontados.
Embora vários médicos tenham alegado que o uso de EHRs reduziu sua satisfação com a profissão, seja por exigir mais tempo ou por afetar a rotina usual, no estudo, somente um em cada cinco dos entrevistados preferem usar o tradicional papel no lugar dos prontuários eletrônicos. O saldo, no longo prazo, é de otimismo.
Por fim, como em qualquer inovação, é necessário tempo para que haja um amadurecimento dos prontuários. No entanto, vale lembrar que os problemas relatados podem ser resolvidos, e isso deve ser perseguido pela indústria. O que pode acelerar esse processo é envolver mais médicos, enfermeiros e demais profissionais na construção dessas ferramentas, ampliando as colaborações e as fontes de feedback.
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