Polêmica sobre estrangeiros vai além do mercado médico

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A polêmica sobre a importação de mão de obra especializada não se restringe apenas ao mercado médico. Enquanto o governo defende a vinda de profissionais especializados, como engenheiros, entidades que representam brasileiros desse setor criticam a ideia.
 
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, tem defendido publicamente a vinda de estrangeiros qualificados para solucionar a falta de mão de obra em alguns setores, como infraestrutura.
 
Em uma apresentação, Neri disse que "a imigração sempre contribuiu para inovar e dinamizar as economias no mundo". Procurado, Neri não concedeu entrevista.
 
A ideia não agrada a todos. "Não somos contra o profissional de fora, mas se não valorizarmos os nossos engenheiros, como vamos valorizar os estrangeiros?" questiona o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, Murilo Celso Pinheiro.
 
No fim de julho, a entidade publicou um comunicado no qual "não recomenda a importação de estrangeiros".
 
O incentivo à vinda de trabalhadores especializados é inédito na história do país, segundo o professor Alexandre Barbosa, da USP. "Os imigrantes tinham níveis de analfabetismo próximos dos trabalhadores nacionais."
 
O português Marco Fernandes, 28, vive e trabalha em São Paulo há um ano e meio. Ele escolheu uma entre seis ofertas de emprego.
 
Fernandes afirma que, depois de escolher a empresa, obter o visto não foi difícil. Mas, quando entrou no país para as entrevistas, não podia dizer que estava atrás de uma vaga. "A gente fala no aeroporto que veio para turismo, chega aqui e resolve."
 
A advogada Marta Mitico é especializada em assessorar estrangeiros que queiram vir para cá. Ela explica que para que um profissional venha trabalhar, a empresa contratante precisa escrever ao Ministério do Trabalho e justificar por que precisa dele. Depois, o papel vai ao Itamaraty, que o envia ao consulado mais próximo de onde está o estrangeiro. Ela estima que o trâmite demore 45 dias.
 
A francesa Marine, 22, que não quer revelar o sobrenome, conseguiu uma vaga em uma agência de turismo. A empresa protocolou o pedido para trazê-la, mas a resposta foi um não: considera ram que já há agentes de viagens suficientes e pediram um detalhamento do que ela faria. "Acho que o governo não quer estrangeiros", diz.