Pesquisa Datafolha denuncia pressão de operadoras de planos de saúde contra médicos

Pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido da Associação Paulista de Medicina (APM) e divulgada nesta quinta-feira (23) mostra que planos de saúde ameaçam o exercício da medicina. Ataques à autonomia dos médicos, interferência indevida na relação com os pacientes, pressões para redução de internações, de exames e outros procedimentos são problemas detectados em todo o estado de São Paulo, segundo o levantamento. (veja pesquisa completa)


Para o 1º secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM), Desiré Callegari, as operadoras de saúde estão caminhando na contramão de uma medicina ética. “Fica difícil o trabalho do médico nas condições dos convênios, o que o coloca passivo de erros. Nem todos os planos de saúde têm um médico como responsável técnico para fazer a avaliação. Há prejuízos claros para os médicos e, principalmente, para os pacientes”.

Mais de 90% dos médicos denunciam interferência dos planos de saúde em sua autonomia profissional. No levantamento Datafolha/APM, em uma escala de zero a 10, é atribuída nota 6,0 para o grau de interferência dos planos de saúde. Nota maior é dada pelos médicos que atuam na capital.

Para cerca de três em cada dez médicos, glosar procedimento ou medidas terapêuticas é o tipo de interferência que mais afeta a autonomia médica. Outros tipos muito apontados são quanto à solicitação de exames e procedimentos; atos diagnósticos ou terapêuticos mediante a designação de auditores; restrições a doenças preexistentes.

O médico paulista ainda atribui nota 4,7 para os planos ou seguros saúde no Brasil. Considerando apenas as empresas com as quais tem ou tiveram algum relacionamento nos últimos cinco anos, a avaliação é similar: nota média de 5,1 em escala de zero a 10.

O levantamento também apontou que o valor pago pela consulta, fica em torno de R$ 4, deduzidos todos os custos do consultório. “Passou da hora de o governo intervir. Não tem uma parametrização dos gastos. Os convênios abusam dos médicos e dos pacientes e compromete a qualidade do atendimento”, enfatizou Desiré Callegari.

Datafolha – Segundo a APM, a pesquisa tem o intuito de conhecer a opinião dos médicos de São Paulo sobre a atuação das empresas de saúde suplementar. Foram entrevistados médicos cadastrados no CFM que atendam a planos ou seguros de saúde particulares e tenham trabalhado com, no mínimo, três planos ou seguros saúde nos últimos cinco anos.

O campo ocorreu entre os dias 23 de junho e 18 de agosto de 2010. Houve 403 entrevistas, sendo 200 na capital e 203 no interior ou outras cidades da região metropolitana. A margem de erro máxima, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%, é de 5 pontos percentuais para o total da amostra e 7 pontos percentuais para capital e interior.